segunda-feira, 25 de junho de 2007

Arqueologo

Arqueólogo
Os arqueólogos investigam as sociedades do passado a partir do estudo sistemático dos seus vestígios materiais e utilizando metodologias próprias, com o objectivo de conhecer os seus modos de vida e os seus percursos históricos. No caso das sociedades extintas sem escrita, este tipo de investigação é o único possível. Contudo, a arqueologia não se restringe ao estudo das sociedades extintas ou desconhecedoras da escrita, podendo complementar ou corrigir informações transmitidas por documentos escritos com carácter histórico e aplicadas a tempos mais recentes, inclusivamente quase contemporâneos.
Na actividade destes profissionais, podem distinguir-se quatro fases complementares: a formulação de uma hipótese de trabalho, a detecção de locais susceptíveis de fornecer informações pertinentes no domínio dessa hipótese, a recolha da informação e a sua análise. Num primeiro momento, procedem à elaboração de uma hipótese de trabalho para a resolução de um problema de natureza histórica. Este projecto deve ser estruturado com base em teorias sobre o funcionamento e a evolução das sociedades humanas e deve adoptar uma metodologia de trabalho que preveja os meios a utilizar, a sua gestão, a sua distribuição ao longo do tempo de execução do projecto e a forma como será analisada a informação obtida. Numa segunda fase, os arqueólogos fazem o levantamento dos locais onde poderão recolher o máximo de informação possível. Esta informação pode ser constituída por qualquer tipo de vestígio material das actividades desenvolvidas pelos grupos humanos do passado: restos de construções (habitações, espaços públicos mundanos ou sagrados, sepulturas, etc.), cerâmicas, ferramentas de pedra ou metal, moedas, armas, esculturas, pinturas, etc.
A recolha da informação não implica necessariamente a realização de escavações arqueológicas, podendo ser conseguida apenas com o recurso a inventários de superfície ou ao estudo de colecções conservadas em museus. No entanto, a maior parte da investigação arqueológica socorre-se da intervenção directa no solo, já que nem sempre é possível a aquisição de dados suficientemente relevantes sem a realização de escavações. Estas, quando efectuadas, destinam-se à recolha de materiais (cerâmicas, ferramentas, armas, etc.), à detecção de restos de construções, à averiguação da cronologia e etapas de ocupação do sítio investigado e, igualmente, à recolha de amostras de solo e de outros materiais que possam contribuir para um conhecimento mais preciso dos contextos de vida das sociedades que se estudam. Finalmente, os arqueólogos procedem à análise de toda a informação conseguida, estudando todos os elementos recolhidos (materiais arqueológicos, plantas das estruturas detectadas, desenhos dos perfis estratigráficos, fotografias, análises especializadas de vários tipos de amostras, etc.) e elaboram os modelos que procuram explicar o processo histórico das sociedades investigadas.
Um outro campo de actuação dos arqueólogos é a chamada arqueologia de salvamento ou arqueologia de emergência: o inevitável desenvolvimento das sociedades actuais, acompanhado da expansão e reformulação das áreas urbanas, da abertura de novas vias de comunicação, da criação de novas e cada vez maiores infra-estruturas, provoca uma pressão adicional sobre o património arqueológico, exigindo profundas alterações legislativas e a criação de mecanismos que permitam uma célere actuação por parte de equipas especializadas e o salvamento do máximo de informação possível, quando não dos próprios vestígios, como no exemplo da barragem de Foz Côa. A minimização dos impactes derivados da realização de obras públicas ou privadas de grande amplitude implicou a integração de arqueólogos nas equipas que elaboram os estudos de viabilidade e de impacto ambiental, cumprindo as normas europeias que regulam a protecção patrimonial e ambiental. Hoje em dia, assistimos a uma mudança de perspectiva face ao património arqueológico, em que o conceito de arqueologia preventiva se substitui ao conceito de arqueologia de salvamento.

As novas tecnologias têm vindo a desempenhar um papel cada vez mais relevante na detecção e análise dos vestígios arqueológicos. A informática, por exemplo, facilitou a criação e a gestão de bases de dados que podem ser constantemente actualizadas e aperfeiçoadas, substituindo as tradicionais metodologias de elaboração de cartas arqueológicas. Estas bases de dados permitem, pois, uma maior eficácia na organização e análise da informação. Por outro lado, possibilitam que a informação circule melhor, através de redes de dados (designadamente através da Internet), proporcionando uma melhor interacção entre as equipas de arqueólogos que trabalham em diferentes locais ou para diferentes entidades.

É cada vez mais comum os arqueólogos trabalharem em equipa, quer com outros arqueólogos, quer com profissionais de outras áreas. A arqueologia transformou-se numa ciência transdisciplinar, pois a natureza do seu objecto de estudo (as sociedades humanas) é multifacetada. Hoje em dia, um arqueólogo moderno concebe a realização de um programa de estudos recorrendo ao contributo de outras especialidades científicas, seja de forma permanente, acompanhando passo a passo a execução do projecto, seja como complemento para resposta a questões pontuais. Deste modo, a integração de geólogos, antropólogos, biólogos, químicos, conservadores-restauradores, arquitectos, engenheiros e outros profissionais nos projectos de investigação arqueológica tem vindo a ser progressivamente entendida como uma mais-valia para esta área profissional e como um factor importante do seu desenvolvimento.
Devido à natureza da sua actividade, os arqueólogos têm necessidade de possuir alguns conhecimentos de outras áreas científicas, tais como geologia, antropologia, geografia, informática, matemática, biologia, desenho, arte, religião, química e física, para poder dialogar com os especialistas dessas áreas. A utilização de conhecimentos destas áreas pode variar consoante o período cronológico que estão a estudar, o tipo de vestígios arqueológicos ou, ainda, a sociedade em causa. Os arqueólogos necessitam também de ter alguns conhecimentos de gestão, pois o seu trabalho inclui organização de pessoal e planeamento financeiro.

Persistência, bastante paciência, interesse pela investigação e um grande rigor na aplicação dos métodos de pesquisa são qualidades básicas para quem pretenda enveredar por esta profissão. Ter aptidão para desenho e fotografia e possuir alguns conhecimentos de informática, é igualmente aconselhável. É também necessário algum espírito de sacrifício e uma boa preparação física, pois os arqueólogos podem ter necessidade de trabalhar em condições climatéricas bastante difíceis ou em estações arqueológicas de difícil acesso, como é o caso de certas grutas ou locais escarpados. A actividade da prospecção para localização de novos sítios arqueológicos pode implicar grandes caminhadas, embora o contacto com a natureza seja compensador. Para quem não goste da rotina esta pode ser a profissão indicada, pois é bastante variada.
No sector público, os organismos que empregam estes profissionais são os serviços centrais da administração pública – maioritariamente através do Instituto Português de Arqueologia (IPA) e do Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico (IPPAR) – embora existam outros instituto públicos, como o Instituto para a Conservação da Natureza (ICN) ou o Instituto Português de Museus (IPM) que também contam com arqueólogos entre os seus colaboradores, ainda que em menor número. As instituições de ensino superior e centros de investigação associados às universidades ou a outros organismos públicos, representam também um sector de emprego em arqueologia. No âmbito do desenvolvimento de trabalhos de investigação em arqueologia, esta disciplina tem uma situação análoga à de outras áreas científicas, em que a criação de emprego está também intimamente ligada a programas de apoio à investigação científica, desenvolvidos sobretudo através da Fundação para a Ciência Ainda no sector público, a tendência actual é para que sejam as autarquias a empregar maior número de arqueólogos. Isto deve-se não só ao facto de os serviços centrais da administração pública apresentarem já sinais de saturação, mas também porque as autarquias têm um papel decisivo na conservação do património e na detecção de eventuais estações arqueológicas, dada a sua posição estratégica local. Por outro lado, o trabalho nas autarquias permite que os arqueólogos tenham uma maior proximidade com as populações e, por isso, possam ter um conhecimento mais imediato sobre uma eventual descoberta, o que possibilita uma actuação mais rápida, caso disponham dos meios necessários). Neste contexto particular, a actividade dos arqueólogos pode ser desenvolvida em diversos campos: realizando escavações arqueológicas importantes para o estudo da história local, acompanhando obras de construção civil em zonas de potencial arqueológico, apoiando a realização de exposições e colóquios, a criação de museus e/ou parques arqueológicos, ou ainda colaborando em campanhas de sensibilização. Neste último caso, podem trabalhar, nomeadamente, junto das escolas, com o intuito de sensibilizar os jovens para os problemas relacionados com a conservação do patrimônio e Tecnologia (FCT).
No sector privado, existe alguma procura pontual de arqueólogos, em regime de trabalho liberal, sobretudo por parte de empresas de engenharia ambiental, de consultadoria e de construção civil e obras públicas. A situação mais frequente de entrega desta tarefas pontuais faz-se com recurso à subcontratação de empresas de arqueologia, a maior parte das quais foram criadas para dar resposta a trabalhos de arqueologia preventiva e de salvamento relacionados com projectos de grande amplitude, como a barragem do Alqueva, ou a construção do Metro do Porto, e representam um sector em franco crescimento. Embora a maioria destas empresas se situe na categoria de pequenas e médias empresas, com quadros de pessoal efectivo relativamente reduzidos, neste momento constituem a maior oferta de emprego no sector, empregando um significativo número de profissionais em situação de emprego pontual e/ou temporário.
O mercado de trabalho para os arqueólogos encontra-se, portanto, em expansão, essencialmente devido à pressão de uma opinião pública cada vez melhor informada quanto à necessidade de preservar os vestígios arqueológicos, potenciada pelos mediáticos casos das barragens do Côa e do Alqueva. Esta tendência da sociedade civil tem tido algum reflexo na vontade demonstrada por alguns organismos públicos, sobretudo a nível local, nas autarquias, em desenvolver projectos de valorização do património arqueológico nacional.
Em relação à distribuição geográfica destes profissionais, e segundo dados da Associação Profissional de Arqueólogos, observa-se que cerca de metade se concentra nas áreas metropolitanas de Lisboa (38%) e Porto (18%). Os dados disponíveis referem-se apenas à residência e/ou domicílio fiscal dos inscritos nesta associação, o que não é representativo das áreas regionais onde exercem a sua actividade, sobretudo se tivermos em conta que a maioria o faz em regime pontual associado a trabalhos de carácter preventivo e de emergência que se estendem um pouco a todo o território do continente. As regiões autónomas da Madeira e Açores ocupam uma posição marginal face às ofertas de emprego em arqueologia, embora se assista a alguma procura na área da arqueologia subaquática no arquipélago dos Açores.
Muitas vezes, são estranhos sinais, gravados ou pintados nas pedras, outras vezes, misturados com a terra surgem pedaços de panelas de barro, conchas, ossos de animais ou mesmo, esqueletos humanos. Podem ser ainda, fragmentos de pedra que parecem iguais a todas as outras pedras mas estas, são especiais, foi o homem que em um passado remoto as lascou, realizando um trabalho cujos vestígios poderão ser encontrados um dia a partir de um trabalho minucioso e delicado, realizado pelo arqueólogo, que vai expor, através de escavações arqueológicas, uma parte dos acontecimentos que ocorreram ali, onde aqueles vestígios foram encontrados.
Quem é e o que faz o arqueólogo?
Em busca de uma arca desaparecida que concederia poderes fantásticos, o arqueólogo Indiana Jones cruza desertos e enfrenta agentes nazistas que atravessam seu caminho. Com direção de Steven Spielberg, o filme Caçadores da arca perdida, que traz o ator Harrison Ford no papel de "Indy", foi sucesso de público em 1981 e vencedor de 5 Oscars no ano seguinte. O estereótipo da imagem do arqueólogo-super-herói criado pelo cinema norte-amerciano, e difundido por boa parte do planeta, pode ser rapidamente rebatido pela realidade vivida por um profissional da área. "As expedições arqueológicas são, na verdade, somente uma parte do trabalho do arqueólogo e, normalmente, acontecem apenas em algumas épocas do ano, quando as condições climáticas são mais propícias". A afirmação é da arqueóloga Tania Andrade Lima, do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O mercado de trabalho para o profissional de arqueologia é bastante amplo. De acordo com Eduardo Góes Neves, do Museu de Arqueologia (MAE) da USP, o arqueólogo pode dar aulas, trabalhar em pesquisas acadêmicas, em museus, em órgãos estatais ou em empresas - trabalho conhecido como arqueologia de contrato.
Atualmente, cerca de 95% dos arqueólogos do Brasil trabalham com arqueologia de contrato. Grande parte dos sítios arqueológicos são descobertos ao acaso, em meio a uma construção ou uma obra. Nesse caso, uma equipe de arqueólogos é contratada (daí o nome "arqueologia de contrato") para promover um salvamento do sítio, caso ele esteja em destruição iminente. Se não houver risco de destruição, o sítio deverá ser cadastrado no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para posterior pesquisa. Então, entra o trabalho da arqueologia acadêmica. Na realidade, o profissional que trabalha por contrato passa mais tempo em expedições do que o arqueólogo acadêmico, justamente porque migra de um sítio ao outro.
Andre Poirier Prous, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz que o fato da grande maioria dos arqueólogos brasileiros trabalhar por contrato representa um ponto negativo para a arqueologia nacional. "As pesquisas são direcionadas e a academia fica prejudicada com isso", afirma.
O lado positivo da arqueologia de contrato é apontado por Neves. "O arqueólogo tem que ser ágil, rápido, tem que seguir o ritmo da obra, da conclusão do gasoduto, da rodovia. Isso pode trazer experiências positivas também para a arqueologia acadêmica", afirma. "Por outro lado, a arqueologia acadêmica permite que o pesquisador estabeleça o ritmo de sua pesquisa e, se necessário, retorne ao sítio várias vezes para que seja realizado o seu trabalho".

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